Soneto para Ela

Você é feita de estrela cadente,
e também de aço, ferro e ferrugem.
Em sua alma, tão calma e ardente,
bate insistente um coração que ruge.

Você é feita da espuma do mar
e também do doce crepitar do fogo.
Em seu coração, que hesita em parar,
uma última chama clama socorro.

Você é bela como o Paraíso,
que grita, lamenta e serve de aviso
para um sorriso que chora de amor.

Você é vazia e já não sente nada,
não se sente bela e não se sente amada,
mas vive lutando do jeito que for.

Olá outra vez

Seus olhos me perseguem
quando durmo
e quando paro de pensar.
Seu sorriso me assombra
sempre que estou
longe de você.

Me liberte,
me solte
e me deixe livre.
Por favor,
por favor,
isso pode ser doce
e pode ser bom
e pode ser amor,
mas me deixe livre.
Por favor.

Adeus, adeus,
e olá
outra vez.
Digo que foi bom
enquanto durou
mas não consigo
para de me despedir.
Adeus, eu digo,
mas olá de novo
e de novo,
então olá
e não me deixe ir.

Eu me deixei ir,
não me deixe ir.
Eu não sei de nada,
porque quero dizer adeus
e quero realmente
ir embora,
mas já que eu
não sei de nada mesmo,
então diga olá
outra vez.

Saudades

Eu tenho vontade
em forma de saudade
em forma de amor
e amor e amor.

Saudade de quem eu nunca conheci
de gente que eu nunca vi
ou que eu vi
com quem não falei
ou com quem falei
mas que nunca conheci
e essa é
a pior de todas.

Tenho saudade de você
mesmo tendo te conhecido
ontem.
Tenho saudades de todos eles,
que conheci
semana passada.
Tenho saudades por pouco tempo,
muito tempo,
duas horas ou cinco dias,
é só o que eu tenho.
Tenho saudades.

Saudade é vontade
que arde em forma
de memórias,
de risadas
e de conversas
ou só de um rosto
ou de lágrimas.
Que arde de um jeito
estranho
formigando
no nosso peito
e faz a gente querer
passar pela mesma coisa
de novo e de novo.

Tenho saudades
de gente que não me faz bem
e falas que me fizeram chorar
e sensaçoes horríveis.
Tenho saudade.
Saudade é viciante
e excruciante
e irritante
te esmaga, te quebra,
te faz sorrir
quando te faz chorar.

Tenho saudades de você,
você e você e só você
mas mal te conheço
mal tenho memórias
tenho saudades
do que, do que?
De você?
Que mal vi?
Da sensação
que me dá?
Do sorriso
que eu dou?
Ou tenho saudades
de sentir saudades,
de ter vontade
de ver alguém?

Eu tenho saudades,
em forma de vontades,
em forma de amor
e você e você

Aquele garoto

Ele tem estrelas nos olhos
e cometas nos braços
e o sistema solar
mora em seus cabelos
e em sua barriga
e em seu corpo magro.

Ele tem pássaros nos lábios
e o oceano inteiro
em cada um de seus dedos
que batucam na mesa
enquanto a aula não começa.

Ele tem leões e lobos
nas veias de seu pescoço
e em cima do ombro
carrega flores selvagens
e venenosas
e belas demais para essa Terra.

Ele tem o mundo inteiro
em seu corpo esguio
e então quando riu
do que eu disse
eu sorri
porque eu soube
que se aquele garoto
me achava minimamente interessante
então o mundo inteiro
poderia achar também.

Inteira e incompleta

Quero ser inteira
Inteira alguém
Inteira eu
sem metade faltando,
sem pedaço sumido,
com todas as partes
de todas minhas partes
de todo o meu todo.

Quero ser inteira
inteira assim
sem vírgula
nem ponto final
de uma vez
só eu
do jeito que for.

Quero ser inteira,
incompleta,
sempre crescendo
e aumentando
me completando
comigo mesma
e com outros
até ser ainda mais
inteira.

Não quero ser
a metade
faltando de alguém
nem o pedaço
de outro coração
quero ser um todo
um inteiro
esperando
outro todo
que complete
o meu.

Função dos Corações

– Corações foram feitos para serem partidos.

– Eu vou discordar.

Sorri. É claro.

– Você é romântica demais.

– Olha quem fala. Essa história de “corações foram feitos pra serem partidos” é puro romantismo. E um pouco de tragédia e melancolia misturada, essa sua mania por desastre. Você romantiza coisas ruins.

– Eu não romantizo elas. Acho horrível. Mas é fato, você não pode discordar, a função dos corações é amar, não ser amado.

– Não pode ser os dois?

– Agora você está só sendo boba.

Não expliquei mais. Ela suspirou.

– Ok, a função dos corações é amar, mas isso não quer dizer que eles foram feitos para serem partidos. Eles foram feitos para serem amados de volta.

– Eles foram feitos para amar.

– Mas você tinha dito…

– E quando se ama, – eu a interrompi – o seu coração quebra. A não ser que a pessoa ame de volta, mas isso não depende de você. É mais difícil.

– Continuo sem concordar. Não com a parte de ser difícil, mas com a parte de ser feito pra isso. Quer dizer, partir é só uma consequência ruim de sua função principal. Não é sua razão de existência.

– Eu sei que não é a razão de existência, mas é uma das coisas para qual eles foram feitos. Não é a coisa… Não sei se isso fez sentido. Imagina que, por exemplo, a função de um controle remoto é controlar a TV. Mas ele foi feito pra muitas coisas. Para ser prático, fácil, rápido, sem fio, portátil…

– Nenhuma dessas funções é uma coisa ruim. Não é uma comparação boa. Falar que corações foram feitos para serem partidos é a mesma coisa que falar que controles remotos foram feitos para serem perdidos.

– Não! Completamente diferente. Você não entendeu. Imagina, então, um Blu-ray. A função dele é passar filme em melhor qualidade, mas ele foi feito, por exemplo, pra dar mais dnheiro pra indústria de filmes que vendeu muito mais e de novo.

– Mas isso é bom pra indústria. Ser partido não é bom para o coração. Nem pra você.

– Isso é relativo. E discutível.

– Não é não.

Respirei fundo.

– Deixa pra lá.

– Eu só não concordo.

– Eu sei. É que…

Parei. Ela me encarou.

– Odeio pensar que algo tem que ter dado errado no caminho pro meu coração acabar sendo partido tantas vezes.

Meu Oceano

– Você precisa ver o jeito que ela olha para você. – O garoto suspirou. Havia pesar em sua voz, acima de tudo, acima da inveja e da tristeza.

– Como? – Eu sorri, ao menos um pouco.

– Como se você fosse o oceano, e ela estivesse desesperada para se afogar.

Franzi o cenho.

– Não entendo.

– É como… Como se você fosse o céu, e o ar, e pássaros cantando, e a casa dela. Sempre que contam uma piada, quando eu olho para ela rir, ela olha para você. Sempre que ela se sente desconfortável, chama seu nome. É sempre você.

Pensei um pouco antes de falar.

– Não quero afogá-la. – Conclui, por fim.

– Não, é claro que não. Eu sei. Mas ela quer, ela quer se afogar completamente, e se perder. Dá pra perceber, pelo jeito que ela te olha. Não quer só nadar um pouco. Você é… Uma ilha, e ela não quer passar as férias, quer viver o resto da vida lá, de um jeito ou de outro.

– Gosto um pouco mais dessa metáfora. Mas mesmo assim…

– Eu sei, eu sei, parece horrível. Talvez seja o meu jeito de falar. Eu acho que é. Horrível, quero dizer. Vai ser tão difícil pra ela.

– Não quero que seja difícil pra ela.

Sabia que eu estava sendo repetitiva, mas não conseguia dizer nada mais.

– Eu sei que não. – Ele suspirou outra vez. – Você não tem outra escolha.

– Queria que ela olhasse para mim como se eu fosse um porto, um lugar seguro pra ela parar. Longe do mar, do oceano, e da correnteza.

Mordi o lábio, e parei de falar por um segundo, mas ele não respondeu.

– Não quero ser a correnteza.

– Bom, alguém tem que ser, né?

– Eu sou a melhor amiga dela. Não é o meu papel. Você… É o seu papel, ser a onda, e o vento, e a adrenalina. É o seu papel ser o penhasco do qual ela quer se atirar, porque a sensação é tão boa. – Minha voz assumiu um tom acusatório, e eu não me parei. – O meu papel é ser o colchão esperando ela cair.

– Eu também não quero ser o penhasco, mas você sabe o que mais? Eu bem que preferia, considerando minha outra opção, que é ser uma paisagem antiga. – Ao contrário de mim, percebi que ele se forçou a acalmar o tom da voz. – E eu odeio essas metáforas, você sabe disso.

– Foi você que começou.

Silêncio.

– Eu não quero que você seja uma paisagem pra ela.

Nada, ainda.

– Ela ia ser mais feliz com você.

Um longo suspiro saiu da boca do garoto.

– Eu sei. E ela também. Mas não é como se importasse.

E eu pude sentir a mão dele segurar a minha, com força, com urgência. Nem sequer me olhou. Só apertou os nós dos meus dedos, durante mais minutos do que eu saberia dizer, e então fechou os olhos.

– Cuida dela pra mim. Pode ser?

E eu apertei os dedos dele de volta.

Estrelas nos seus Olhos

O céu é lindo,
Com todo seu brilho,
E sua beleza,
E eu poderia olhá-lo
O dia inteiro.
E a noite inteira
Até as estrelas se apagarem.
Eu poderia.
Mas eu prefiro
Olhar para você
Porque há mais galáxias
Em seus olhos
Do que jamais haverá
No céu.

E a noite é bela,
Como o mar selvagem,
Mas seu rosto é ainda mais,
E seu sorriso
É mais brilhante
Que qualquer estrela
Ao lado da lua.
E sua risada alta,
Seus passos desajeitados,
Tudo em você
Me encanta
E hipnotiza
E eu nunca achei ninguém
Mais belo.

E o céu é lindo,
Tão lindo,
Mas não tão lindo
Quanto você.

E o Paraíso também

Eu quero te dar tudo.
O mundo.
As estrelas.
O sol e a lua.
Tudo isso, e o paraíso também.
Eu quero te dar tudo,
meus braços,
meus lábios,
da ponta de meus cabeos até o fim de minhas unhas.
E quero te dar ainda mais,
tudo isso, e meu coração também.

Eu quero que todo o mundo
saiba de nós dois.
E de como você me segura,
e me afaga,
e me abraça,
e de como eu sou só sua
até o sol nascer.
E quero que me ouçam gritar
do fundos dos oceanos
e do mais alto céu
sobre como eu te amo
e te amo e te amo
até que não haja mais nada no mundo
que duvide de mim.
Nem uma pessoa,
nem um pedaço do chão,
nem uma folha de árvore.
Quero que todos saibam.

E quero que você me escute
e que você acredite
mas que tudo no mundo
que eu te acho lindo.
Você inteiro,
seus braços,
seus lábios,
cada pedaço de seu corpo imperfeito.
E quero te dar de presente
algo que não posso te dar,
tudo isso, e algo mais,
que é você ter certeza
de que eu te amo
e que te vejo
e que nunca vou desistir
de nenhum de nós.

Só pra você

I. Você o vê, e ele é lindo.
(pare de imaginar coisas, pare de se enganar
ele é bonito demais para você.
você não vê?)

II. Quando ele fala, sua voz é melodia,
e tudo que diz é o que você quer ouvir.
(ele nem sequer é seu tipo,
mas o que te importa?
é o que você quer.
Ao menos agora.)

III. Difere de tudo que você imaginou,
para o seu garoto perfeito,
e mesmo assim,
é ele.
(você sonha acordada
a noite inteira
porque não consegue dormir
com ele na cabeça.)

IV. Você não o vê
Há uma semana,
e então um mês,
mas ainda pensa nele.
(e você quer parar
mas ele invade seus sonhos
e seus olhos
e sua mente)

V. Nunca aconteceu nada,
mas você imagina,
de novo e de novo
como seria se acontecesse,
até parecer uma memória.
(e você não se engana,
não de propósito,
mas já não tem certeza
do que aconteceu.)

VI. Você se dobra e se quebra
e se deixa pegar fogo
porque quer livrar-se dele
do fantasma dele
assobrando seus sonhos
(e quando você finalmente queima,
é ele que você vê,
do outro lado da chama
e ele continua
bonito demais pra você.)